Camila de Ávila's video: Momentos Musicais Vai passar

152 Vai passar – Chico Buarque e Francis Hime Lançada em 1984, no disco da capa vermelha e que Chico está de blusa azul, a canção é em formato de samba-enredo. Atualmente, em 2020, a canção vem sendo muito cantada e lembrada pelo seu nome “vai passar”, como um desejo de que esses tempos sombrios e estranhos findem logo. Mas a música é mais profunda e o sentido do “vai passar” por vezes surge como passar por um caminho, literalmente a avenida. Segundo Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello na publicação Livro 85 anos de Música Brasileira Vol. 2, a canção surgiu de outra música. “Chico Buarque empenhava-se em acertar o refrão do samba "Dr. Getúlio", para a peça homônima, de Dias Gomes e Ferreira Gullar, quando a partir de uma das linhas melódicas experimentadas começou a surgir a ideia de um novo samba. Este samba, que ele pretendeu dividir com um grupo de compo-sitores, cada um fazendo uma parte, era o "Vai Passar", que acabou dividido apenas com Francis Hime: "a melodia modulava para cima, sem voltar ao tom original, e o Francis deu uma ajeitada resolvendo o problema", esclareceu Chico numa entrevista à Rádio JB, em 1990”. Os autores explicam que “"Vai Passar" é um extenso samba-enredo de versos li-bertários, que comentam de forma alegórica o fim da ditadura: "Num tempo / página infeliz de nossa história / passagem desbotada na memória / das nossas novas gerações / dormia / a nossa pátria mãe tão distraída / sem perceber que era subtraída / em tenebrosas transações..." Parece que o Chico não fazia muita fé em "Vai Passar", pois só o concluiu no estúdio, às vésperas da gravação”, conta a publicação. Já o autor Humberto Werneck conta que “de repente, em meio aos compassos de Dr. Getúlio, começou a insinuar-se um outro samba; Chico se pôs a persegui-lo, ora com o violão, ora apenas com a voz, resvalando aqui e ali de volta ao refrão do musical - até finalmente encontrar: “Ai que vida boa, olerê. Ai que vida boa, olará””. Como afirmaram Zuza e Jairo, Chico pretendia fazer a composição com vários parceiros, tal como os sambas-enredo são feitos. “Chico considera o auge de sua "ilusão coletivista": a tentativa de fazer daquele esboço um samba de vários parceiros. Para isso reuniu em casa um grupo de compositores - Edu Lobo, Fagner, Francis Hime, João Bosco, Carlinhos Vergueiro, João Nogueira -, de-pois de um jogo do Politheama. Bem que tentaram, mas não deu certo: daquele berreiro não saiu um verso que prestasse. Nem tudo, porém foi esforço perdido: Francis, ao piano, conseguiu dar um jeito na melodia, cujo tom subia, subia e não voltava mais”. Mesmo as-sim, a canção foi deixada de lado e Chico só a “resgatou no ano seguinte, ao reunir material para um novo LP. Mostrou então aquele samba ao produtor Homero Ferreira, seu ex-cunhado, e ao arranjador Cristóvão Bastos, que ficaram entusiasmados. Ali mesmo, no estúdio, a letra foi terminada”, Werneck. Há quem diga que a música se refere aos tempos coloniais quando diz “Num tempo, página infeliz da nossa história...”. Pode ser também. Infelizmente o Brasil tem muitas páginas tristes na sua história. Mas pelo contexto e ano que foi feita, é mais provável que se refira ao fim da Ditadura Militar. Podemos analisar como se a música se referisse a esses dois momentos históricos. O Brasil colônia passou por tenebrosas transações, assim como na ditadura e como ainda acontece hoje. E os filhos que erram cegos pelos continentes podem ser os índios e escravizados, como os presos políticos e as pessoas à mercê de um pífio auxílio do governo em momento de pandemia. No Brasil colônia os barões eram famintos e os napoleões eram pessoas de cor, e hoje são os grupos de resistência que se erguem. A grande pergunta é: onde está a evolução da liberdade? Na festa da carne? Pode ser, o único momento, desde os tempos coloniais em que o homem é livre. Somente vivendo num sanatório, a vida é sempre boa.