Paulette Pink's video: Caso Lorena Muniz asfixiada

Olá meus Pinkmores!! Venho mais uma vez aqui trazer um assunto de extrema importância – hoje eu gostaria de falar sobre o caso de Lorena Muniz. A garota trans que foi abandonada, sedada, em uma clínica durante um incêndio. Recentemente tive que tirar uma das minhas próteses de silicone, e sei o quanto é difícil para uma transexual ter que viver sem um dos símbolos da sexualidade feminina... Também sei o que é conviver com a frustração e a humilhação, inclusive nos consultórios médicos. Imagine que o no meu tempo nem nome social existia! Era o óooooohhh se sentir exposta em sua condição de gênero. Certa vez uma atendente que era visivelmente religiosa fez questão de me chamar pelo nome masculino somente para me constranger perante as pessoas que estavam sentadas na triagem do convênio. E olha que eu havia discretamente pedido a ela que me chamasse pelo meu nome social. Mesmo assim ela disse: “O seu nome aqui está Paulo e é por este nome que eu vou chamá-lo”, sempre referindo-se a mim no masculino. É muita humilhação passar a vida se sentindo um criminoso. Por isso eu entendo o sonho de Lorena Muniz, uma moça de 25 anos, cabeleireira, natural de Recife, que viajou para São Paulo apenas para colocar as desejadas próteses mamárias. Ela faria o procedimento na clínica Saúde Aqui, e já havia sido anestesiada quando um curto-circuito aconteceu. O incêndio fez todos deixarem o local – todos aqueles que podiam andar! Lorena foi abandonada numa maca e lá ficou por longos sete minutos, inalando a fumaça tóxica que tomou conta do lugar. Existem muitas Lorenas que só querem se reconhecer em seu verdadeiro gênero. O silicone é uma das etapas essenciais para esse reconhecimento. Para nós, mulheres trans, isso nada tem a ver com estética, mas como auto-aceitação. Eu sinto a dor dessa jovem e de sua família. E pergunto: Como um ser humano é capaz de deixar para trás uma pessoa em estado sedativo? Será que ela foi abandonada pelo ditado “salve-se quem puder” ou será que ela é mais uma vítima do preconceito? Por que ela não mereceu ser socorrida como todos ali foram? Até quando as vidas de pessoas trans serão ceifadas de seus sonhos pelo desdém alheio? Lorena não resistiu e faleceu no dia 21 de fevereiro. Morreu sem realizar o sonho, mas não sem cumprir a missão de mostrar ao mundo a insignificância com que a sociedade nos enxerga. Faz tempo que o descaso nos coloca no último lugar da fila, naquele que nem colete salva-vidas tem. Para sobreviver, a gente insiste em remar contra a maré. Até quando vamos aguentar?