PureSpiritMusic's video: F bula da Noite de Vidro - Carlos Vereza - FestRio 86 - Raridade

FÁBULA DA NOITE DE VIDRO (OS CAMINHANTES) Vídeo roteirizado, dirigido e protagonizado por Carlos Vereza, em 1986, inspirado em "Os Caminhantes", poema de Nelson Lima, criado em 14/3/1967 e publicado no Suplemento Literário de Minas Gerais em novembro de 1986. O vídeo, que conta com a participação de Nelson Lima (o passante-palhaço sonhador) e da menina Larissa Vereza, alcançou o 2º lugar no Festival Internacional de Vídeo e Canção, em1986. A obra conta ainda com o suporte dos músicos Gibran Helayel (violão e trilha musical), Ronaldo Albernaz (flauta), Henrique Drach (celo), Nice Rissone e Anabel Albernaz (vocal). OS CAMINHANTES Nós que partimos um dia para longe de nós mesmos e estamos perdidos numa paisagem estranha Nós os que caminham no escuro atrás de uma luz fictícia os adultos que perderam o sentido da infância que estamos sempre chegando de mãos vazias e o coração ausente que não lembramos de algo vital Nós os subjugados os de esperança incompleta que trazemos a farsa nas células e a mentira nos olhos os filhos de uma solidão selvagem e de uma noite de vidro Nós que chegamos à Lua e não chegamos em nós mesmos que traçamos rumos que viajamos em naves blindadas e voltamos inertes na impotência que sempre estamos no mesmo ponto de partida Nós mortos que caminhamos para a morte maior os sedentos que submergiram na abundância que sonhamos ambicionamos acumulamos e trazemos o câncer Nós os que perdemos Deus antes de possuí-Lo Nós que não suportamos a leveza da Lira que só por acaso olhamos os lírios nos campos mas que às vezes nos unimos num momento de lucidez e povoamos avenidas Nós os que vão à guerra que combatemos e não encontramos o inimigo os desertores da guerra verdadeira que matamos inocentes que morremos aos poucos em cada corpo que tomba em vão Nós os que de noite fecham a janela e choram em secreto abandonados a uma noite mortal que nos agarramos uns aos outros e caímos juntos no abismo mas que as vezes nos encontramos num ponto ideal do futuro e celebramos as canções proibidas Nós os caminhantes que perderam a estrada de vista os que mataram o poeta no parto decisivo e perderam para sempre a mensagem os que não querem voltar a ser crianças que herdamos a Terra e perdemos as constelações que preferimos bandeiras brancas para esconder o sangue das mãos Nós os que prostituíram o átomo que erguemos templos e deixamos o homem dormindo na chuva os imersos nas cinzas da Liberdade os atores que choram nos bastidores que representamos para uma platéia automática os fantoches sustentados por um fio de ilusão os cúmplices por omissão as únicas vítimas os que saíram cedo para o trabalho e voltaram tarde para a compreensão os impotentes os que hesitam os que aplaudem na esperança de morrer mais lentamente os perplexos os profetas de voz selada os mágicos de corações atados e que nos sentimos mais seguros quando abraçamos alguém Nós que aprisionamos pássaros para lembrarmos do tempo que tínhamos canto e asas mas que às vezes nos unimos num momento de lucidez e povoamos avenidas Nelson Lima .